Blog GÊNEROS MUSICAIS, de autoria de Álaze Gabriel.
Autoria:
Rafael José de Menezes Bastos - Professor do Departamento de
Antropologia da Universidade Federal de Santa Catarina.
RESUMO
Durante os últimos trinta anos, a etnomusicologia
das terras baixas da América do Sul experimentou um forte crescimento. O fato
está contribuindo para que a região venha a deixar de ser, definitivamente, uma
das mais desconhecidas do planeta quanto às suas músicas, embora detentora de
algumas das descrições mais antigas do mundo sobre música
"primitiva". Um número importante de monografias e outros tipos de
textos foram produzidos no período sobre a etnomusicologia da área,
especialmente no Brasil e a partir de 1990, assim como tentativas de comparação
regionais e sub-regionais. Também uma quantidade significativa de monografias e
estudos comparativos sobre a região, feitos durante o período por antropólogos
com outras especializações que não a etnomusicológica, apontou para a música —
em conexão típica com as demais artes, a cosmologia, o xamanismo e a filosofia
— como um domínio cujo conhecimento é estratégico para a compreensão da região.
O quadro resultante desses esforços é promissor e está necessitando de análise,
tarefa fundamental na direção da projeção de novas pesquisas. Este texto,
dividido em duas partes, aproxima tal tarefa, centrando-se na produção escrita.
Somente de passagem ele leva em conta as produções fonográfica, videográfica e
similares. Na primeira parte do texto, levanto a literatura produzida no
período sobre a música na região, assim como suas características. Na segunda,
com base na literatura reconhecida, reflito sobre as principais marcas da
música, e lanço hipóteses de trabalho para investigações futuras.
Palavras-chave: Terras baixas da América do Sul, Música e ritual,
Cosmologia e filosofia, Etnomusicologia indígena
APRESENTAÇÃO
A etnomusicologia das terras baixas da América do
Sul, detentora de algumas das descrições mais antigas do mundo sobre "música
primitiva" — as de Léry sobre canções tupinambá do Rio de Janeiro (de 1578
[veja 1980]) e Montoya sobre categorias do mundo sonoro-musical guarani (de
1639 [1876])1
— não conheceu desenvolvimento moderno comparável, mesmo que de longe, àquela
que teve como palco regiões como a África subsaariana, a América do Norte e o
sudeste asiático. O estudo das razões para que isto tenha acontecido não faz
parte deste trabalho. Durante os últimos trinta anos, porém, essa área
acadêmica passou por um crescimento significativo que parece ter perspectiva de
continuidade, particularmente no Brasil. Esse crescimento expressou-se pela
publicação de monografias e outros tipos de textos etnomusicológicos — ensaios,
artigos e outros — e outras especializações que encontram na música tema
relevante.2
O quadro resultante de tais esforços é promissor, necessitando de análise na
direção do desenho do perfil da música na região e da projeção de novas
pesquisas.
Este texto, dividido em duas partes, busca
aproximar esta tarefa, centrando-se na produção escrita, levando em conta,
somente de passagem, as produções fonográfica, videográfica e similares. Na
primeira parte, levanto as principais características da literatura produzida
no período. Na segunda, considero algumas das marcas mais notáveis da música da
região.
1ª PARTE — PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA LITERATURA
A etnomusicologia em referência tem como primeira
característica a proveniência predominante do campo da etnologia. Explico: a
etnomusicologia como um todo é produzida a partir basicamente das duas grandes
áreas acadêmicas com tradição de formadoras da disciplina: antropologia e
música, esta última através, de modo particular, da musicologia histórica
(Menezes Bastos 1995). No caso da etnomusicologia sobre as músicas populares
urbanas no Brasil, por exemplo, essa produção tem sido feita, de maneira mais
ou menos equilibrada, a começar destas duas áreas — e, minoritariamente, de
outras, entre as quais as de sociologia e história (Menezes Bastos 2005b).
Porém, no caso da literatura sobre as músicas indígenas das terras baixas da
América do Sul, nota-se que ela advém de forma predominante da etnologia,3
encontrando nos estudos sobre a mito-cosmologia, a filosofia, a lingüística, as
artes como um todo, o ritual e o xamanismo, o simbolismo e a cognição, a
história e a política algumas de suas principais portas de entrada. A
investigação das razões deste quase monopólio etnológico sobre a
etnomusicologia das terras baixas também não será objeto das presentes
reflexões.
A segunda característica da produção
etnomusicológica em foco é que ela freqüentemente como que recusa o rótulo
"etnomusicologia", preferindo, na maioria das vezes, ser anunciada
através de entradas como "antropologia da música", "antropologia
musical" e outras. Valeria analisar esta espécie de evitação que, sugiro,
teria a ver com o que acima chamei do quase monopólio da etnologia sobre a
etnomusicologia em análise. Não farei isto aqui, porém. De qualquer sorte,
originando-se os trabalhos daqui ou dali e tendo como etiqueta isto ou aquilo,
o que parece estar constituído de maneira madura nos sistemas de ensino e
pesquisa responsáveis pela produção aqui comentada — no Brasil, programas de
pós-graduação em antropologia social — é o interesse pelas músicas indígenas
como tema típico de investigação. Tudo se passa, então, com essa antropologia
da música de forma similar ao que se dá, segundo Adorno (1983:259), com a
sociologia da música: é ela uma das diversas antropologias sobre algo, em que
este "algo" é a música.
A terceira característica da literatura comentada é
que ela — como também aquela relativa à etnologia das terras baixas da América
do Sul como um todo — está sendo produzida em instituições acadêmicas de vários
países, envolvendo igualmente profissionais nacionais de países diversos. Isto
concede uma importante marca internacional à etnomusicologia em análise. O
Brasil, a França, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos detêm em relação a este
aspecto posição de destaque, o primeiro sendo o país onde, ao que parece, a
literatura em foco é mais numerosa — particularmente a partir dos anos 1990 —
mercê da produção cada vez mais abundante e expressiva dos programas de
pós-graduação em antropologia social, que produzem dissertações de mestrado e
teses de doutorado (veja Beaudet 1993, Menezes Bastos 2005a, Coelho 2007).4
A perspectiva comparativa, constituída desde o
interior da própria etnografia,5
é a quarta característica da produção em consideração. Ela se sustenta na
convicção teórico-metodológica, partilhada pelos americanistas de extrações as
mais diferentes entre si, de que as terras baixas da América do Sul constituem
um grande sistema relacional, comunicante inclusive com os Andes (tipicamente
na longue durée). Este sistema relacional está assentado na existência
de uma ampla rede de comunicações, na qual as artes e a artisticidade
desempenham papéis absolutamente cruciais (Menezes Bastos 2001). Por artisticidade
entende-se aqui um estado geral de ser, que envolve o pensar, o sentir, o
fazer, na busca abrangente da "beleza", esta compreendida — para
longe de suas formulações ocidentais consuetudinárias, tipicamente
academicistas — tão somente como passe de ingresso nos universos da arte (tanto
quanto a "monstruosidade", a "prototipicidade", a
"eficácia", a "formatividade" e outras senhas). Esse estado
geral, segundo os estudos tematicamente mais variados, cobrindo não apenas as
áreas que o Ocidente consagrou como "belas artes", é uma
característica marcante das culturas da região, para as quais, as coisas e os
seres do mundo são (e constantemente vêm a ser) obras de arte. Isto desde a
pessoa até o cosmo, passando de maneira ampla pela vida social (veja Overing
1989).
Vale apontar, por fim, que o reconhecimento, no
período, do interesse pelos estudos etnomusicológicos nas terras baixas tem
encontrado no nível político das relações das sociedades da região com o
"mundo dos brancos" um importante fator: a musicalidade e a
artisticidade em geral tão características desses povos têm sido, elas mesmas,
importantes alavancas de sensibilização e solidariedade dos
"civilizados" no sentido de sua arregimentação como aliados dos
índios em suas lutas por cidadania. Consistente com esse quadro e apesar de
ainda incipiente mas em ritmo de crescimento, os índios, com a ajuda de seus aliados,
estão produzindo seus próprios discos e vídeos, assim como shows, espetáculos
diversos e outros eventos (veja Mello 2003).6
Assim, a quinta característica da etnomusicologia das terras baixas da América
do Sul no período ora em estudo tem uma grande carga de politicidade.
Como apontei desde o começo, o cenário atual da
etnomusicologia das terras baixas da América do Sul é extremamente promissor.
Se, por um lado, pode-se aqui contar com a existência de um número
significativo de estudos, por assim dizer, inaugurais no período aqui enfocado
— como os de Camêu (1977), Menezes Bastos (1999a [1978], 1990), Smith (1977),
Beaudet (1997 [1977]), Travassos (1984), Aytai (1985), Fuks (1989), Hill
(1993), Seeger (1987), Estival (1994), Olsen (1996) etc. — por outro, ele
inclui, tipicamente no Brasil e a partir da segunda metade dos anos 1990, uma
fértil floração de pesquisas realizadas por uma nova geração de
etnomusicólogos, a maioria deles antropólogos. Entre estes estão os de Espinoza
(1991), Salivas (1995), Silva (1997), Lima (1998), Montardo (2002), Piedade
(1997, 2004), Mello (1999, 2005), Cunha (1999), Véras (2000), Werlang (2001),
Dallanhol (2002), Coelho (2003), García (2005) e Herbetta (2006)7
e outros.
A existência dessa nova geração de etnomusicólogos
sugere que a etnomusicologia em estudo parece ter ido além de sua fase de
acumulação primitiva de capital, tornando possíveis sua reprodução e
desenvolvimento. Espera-se com o trabalho da geração comentada a expansão da
cobertura etnográfica da etnomusicologia em análise — ainda pequena, embora não
tanto, conforme este texto pretende evidenciar — a abordagem da música com
tematizações e aproximações teórico-metodológicas renovadas e o desenho de
quadros comparativos articulados, regionais e sub-regionais.
No sentido de tornar ainda mais evidente a
promissora situação da etnomusicologia em análise, anoto dois últimos pontos: a
formação de uma quantidade cada vez mais expressiva de jovens antropólogos que,
sem serem etnomusicólogos, estão realizando pesquisas de grande interesse para
a compreensão da música nas terras baixas da América do Sul (veja Barbosa 1991,
Ribeiro 1992, Oliveira Júnior 1998, Romano 2000, Arcanjo 2003, Cesarino 2003 e
Gorham 2005), e a existência de materiais inéditos de grande interesse,
publicados parcialmente em veículos de difícil acesso ou de circulação
restrita. Aqui se incluem os estudos de Avery sobre os índios Mamaindé e Pareci
(1973, 1974, 1973-1974, 1974-1975a, 1974-1975b)8
e os de Aytai sobre os Xetá e os Nambikwara (1978a, 1978b, 1978c, 1978d, 1979a,
1979b, 1979c, 1981a, 1981b, 1982a e 1982b). A abundância dessas referências
sugere que elas constituem apenas a ponta de um iceberg muito maior e
diversificado.
Para fechar a primeira parte deste texto, vale
acrescentar que a etnomusicologia em estudo vem aparecendo em um número cada
vez mais significativo de artigos nas coletâneas recentes sobre a
etnomusicologia da América do Sul e da América Latina em geral (cf. Kuss 2004;
Lühning e Rosa 2005; Lucas 1999; Lucas e Menezes Bastos 2000; Olsen e Sheehy
1998; Sandroni 2006; Tugny e Queiroz 2006). Quanto a intentos de comparação —
no plano regional e naqueles sub-regionais — eles ainda são muito poucos e
limitados. Entre eles estão os seguintes: Menezes Bastos (1996), tematizando as
músicas dos índios Jê; Menezes Bastos e Piedade (1999), idem, dos Tupi-Guarani;
Montardo (2002), idem dos Guarani. Há ainda os trabalhos sobre a região como um
todo, a saber: Beaudet (1993) e o meu próprio (Menezes Bastos 1994, 1999b).
Concluo sugerindo que tanto as bases quanto as perspectivas da etnomusicologia
regional em consideração são sólidas.
2ª PARTE — MÚSICA NAS TERRAS BAIXAS DA AMÉRICA DO
SUL. CARACTERÍSTICAS NOTÁVEIS
Como disse anteriormente, as tentativas de
comparação envolvendo as músicas das terras baixas da América do Sul são ainda
muito poucas e limitadas, tanto nas escalas sub-regionais quanto na escala
regional como um todo. Feitos na primeira parte do artigo o levantamento e a
caracterização da literatura sobre a área, pretendo agora modestamente
contribuir para a superação dessa limitação, apontando para e refletindo sobre
as marcas que considero mais notáveis das referidas músicas e lançando algumas
hipóteses de trabalho para pesquisas futuras. Vale salientar que, considerando
a ainda relativamente pequena cobertura etnográfica da subárea de estudos —
embora, volto a considerar, significativa — as marcas em consideração têm o
sabor de hipóteses de trabalho.
A primeira marca que considerarei, e sobre a qual
tenho insistido em várias oportunidades (Menezes Bastos 1994, 1996, 1999b,
2001; Menezes Bastos e Piedade 1999), caracteriza o papel — e seu valor
consensualmente visto como estratégico — desempenhado pela música na cadeia
intersemiótica do ritual na região. A questão foi originalmente estudada em
áreas das terras baixas, bem diferentes e afastadas umas das outras, por
autores trabalhando de maneira independente: na Amazônia peruana, entre os
Aruaque amuesha, por Smith (1977); e no Alto Xingu, por mim (1978 [1999a]),
entre os xinguanos Tupi-guarani kamayurá.9
Smith caracteriza o papel da música na trama ritual amuesha como o de centro
integrador dos discursos nela presentes, centro este que por assim dizer
costura a unidade da expressão ritual a partir da diversidade existente entre
os referidos discursos. Tudo se passa ali como se a música fosse o lugar
centrípeto para onde convergem — em sua diversidade — os discursos visuais,
olfativos e de outros canais que compõem os ritos. A partir daí, esse lugar
passa a ser centrífugo, recompondo a diversidade discursiva ritual. De forma
similar, o caso kamayurá estabelece a música como um sistema pivot que
intermedia, no rito, os universos das artes verbais (poética, mito) em relação
àqueles das expressões plástico-visuais (grafismo, iconografia, adereços) e
coreológicas (dança, teatro). Integração de um lado, intermediação
de outro — envolvendo os diferentes canais (perdão pelo pleonasmo: em suas
diferenças) discursivos — tais são os sentidos que, a partir dessas fontes dos
anos 1970, tipificam o papel da música na cadeia intersemiótica do ritual da
região em estudo.
Basso (1985), estudando os também xinguanos, mas
Caribe kalapálo, enquanto confirma esses sentidos originais, afina-os: para
ela, a natureza mesma da performance ritual é musical — daí seu importante
conceito de ritual musical — a música constituindo a chave (key)
da citada performance, desencadeando-a.10
Gebhart-Sayer (1986, 1987), abordando os Pano shipibo-conibo da Amazônia
peruana, leva adiante todos esses nexos. Para ela, entre a música e os desenhos
visuais a relação é de tradução; no ritual xamânico desse povo, as
canções são a tradução sonora, reversível, de motivos pictóricos. Assim, pode-se
até dizer que estes seriam a transcrição visual daquelas, que são, portanto,
sua partitura, notação musical (diga-se: non mensurata). Um nexo próximo
a este parece fazer sentido entre os Caribe yekuana da Venezuela, envolvendo a
cestaria e o canto (Guss 1990), tudo se passando entre esses índios como se
compor cestas fosse cantá-las.
Em suma, é possível falar de uma generalidade do
papel da música na cadeia intersemiótica do ritual nas terras baixas da América
do Sul apontando para um lugar semântico que encompassa os nexos de integração,
intermediação, desencadeamento e similares, sintetizáveis pelo
nexo geral de tradução. Em 2001, sugeri que, neste contexto, o sentido
de tradução salienta a relação semântica interdependente entre os
subsistemas presentes na referida cadeia. Isto, entretanto,
[…] de forma antes tautegórica
que alegórica, o que significa dizer que a referida tradução não deve ser
pensada em termos sinonímicos ou da reprodução dos mesmos significados pelos
diferentes subsistemas significantes. Não, pois estes subsistemas constituem,
um a um, esforços de expressão significante de significados de outros canais,
deslocando-os, no entanto, dos significados conseqüentes que mimeticamente
produzem (:348).
Tal sentido de tradução aproxima-se daquele
preconizado por Benjamin (1968), como "procura de ressonâncias e
reverberações entre sistemas e códigos diversos, e de totalizações de pontos de
vista parciais" (veja Carneiro da Cunha 1998:16).
A segunda característica notável da música nas
terras baixas da América do Sul que abordarei pode receber o rótulo de seqüencialidade,
e tipifica a organização musical dos rituais no plano intercancional, ou seja,
no plano constituído pela articulação entre as respectivas canções (ou peças
instrumentais ou voco-instrumentais) componentes. Recordo que Basso
(1985:246-253) identifica os ritos kalapálo como musicais, por entender
que é através da performance musical que a comunicação é neles fabricada. No
contexto desta identificação, a seqüencialidade em foco explicita-se pelo fato
de os repertórios musicais da região — na grande maioria das vezes, parte de
complexas cadeias intersemióticas, conforme foi abordado anteriormente —
organizarem-se em seqüências (ou seqüências de seqüências) de cânticos (sejam
eles canções ou vinhetas), de peças instrumentais ou voco-instrumentais. Essas
seqüências, assim como as seqüências de seqüências, freqüentemente ancoram a
cronologia do dia e da noite e são por ela ancoradas. É possível que também o
façam naquelas de outros ciclos temporais, como os meses, as estações etc.,
compondo calendários musicais.
Tudo leva a crer, então, que peças isoladas de
música não parecem fazer muito sentido na região. Essa seqüencialidade no plano
intercancional — cujo tipo de organização evoca a da suíte ocidental (Fuller
2007) — foi primeiramente descrita por mim, de forma sistemática, entre os
Tupi-guarani kamayurá do Alto Xingu (Menezes Bastos 1990, 1994, 1996a, 2004a,
2004b; Menezes Bastos e Piedade 1999). Posteriormente, ela foi estudada entre os
Aruaque kulina do Acre (Silva 1997), os Tucano yepamasa (Piedade 1997), os
Aruaque xinguano wauja (Piedade 2004; Mello 1999, 2005), os Tupi-guarani
guaranis do sul e do centro-oeste brasileiros (Montardo 2002), os Caribe arara
do Pará (Coelho 2003) e — sim, exatamente, sim — entre os "índios
misturados" Kalankó de Alagoas (Herbetta 2006).
É minha hipótese de trabalho que este tipo de
organização encontra-se muito mais disseminado do que a abrangência desta
amostra dá a entender, apesar de a referida amostra ser, sem dúvida,
considerável, embora eventualmente replicante, pois integrada somente por
etnografias de minha autoria e de estudiosos que são ou foram meus alunos ou
colaboradores.
Outras etnografias, em número significativo — não
provenientes do círculo de Santa Catarina, nem fazendo parte de nenhum outro
círculo, mas que envolvem grupos indígenas distantes e diversificados entre si
— podem ser aqui enumeradas. Entre elas estão as de Beaudet (1997 [1977]):
sobre os Tupi-guarani wayapi; Halmos (1979): Nambikwara; Aytai (1985): Jê
xavante; Basso (1985) e Seeger (1987): Jê suyá; Estival (1994): Caribe arara;
Cunha (1999): Pankararu — de novo, sim, "índios misturados". Tudo
parece apontar para o fato de que a seqüencialidade apresenta-se como um dos rationales
da organização dos rituais da região no plano intercancional. No sentido da
consolidação dessa proposição, estudos circunstanciados sobre a temática estão
na ordem do dia. No caso kamayurá por mim investigado, a seqüencialidade assume
uma elaboração extremamente complexa, seguindo um padrão que chamei de estrutura
seqüencial. Detalho um pouco, abaixo, este padrão, de grande interesse do
ponto de vista cognitivo e que sugiro que, qua padrão, estará muito mais
para típico do que para especial nas terras baixas (veja Menezes Bastos 1990,
2004a, 2004b).
A etnografia do ritual que abordei, o Yawari,
é massiva, sendo ele um daqueles ritos — muito comuns nas terras baixas — de
longa duração, cujas preliminares podem estar a anos de distância de sua
execução propriamente dita.11
Já à primeira análise, porém, a citada etnografia exibe regularidades
marcantes: o respectivo sistema cancional é um conjunto complexo de seqüências
de seqüências de cânticos (canções ou vinhetas) composto pelas repetições —
feitas com mudanças maiores ou menores — das seqüências que o integram,
repetições estas realizadas com a periodicidade do dia, durante 11 dias. As
seqüências componentes repetem-se isonômica e isotopicamente, sendo variantes
entre si. Chamo isonomia à relação de pertinência estrutural entre
seqüências, que se caracterizam como transformações (no sentido de
Lévi-Strauss) de uma estrutura (no caso, a estrutura seqüencial).12
Com isotopia, refiro-me à sua localização numa idêntica parte do dia.
Seqüências homólogas são aquelas ao mesmo tempo isonômicas e isotópicas.
As mudanças referidas são ocasionadas por operações realizadas quando da
reiteração da seqüência de referência de cada subconjunto de variantes.13
Então, canções ou vinhetas são incluídas, excluídas, substituídas, resseriadas,
retrogradadas ou repetidas.
Como nuclídeos de certos elementos químicos,
seqüências homólogas (excepcionalmente, seqüências quaisquer) trocam
componentes entre si (cânticos), partículas livres (ou quase) que incorporam ou
cedem. Noto que o sistema cancional do Yawari compõe-se de nove
subconjuntos de seqüências homólogas — variantes entre si — que também chamo de
cantos, no sentido de macrounidades de uma composição músico-poética de
fôlego (o que evoca as epopéias mediterrâneas clássicas): noitinha (tipos
abertura e regresso), noite, noite funda, madrugada, alta madrugada, clausura
da madrugada e tarde (tipos de reabertura e continuação). Como para os Kamayurá
o começo do dia se dá no crepúsculo, a noitinha é o primeiro canto do Yawari;
a noite, o segundo, e assim por diante, até a tarde, sétimo e último canto.
O referido sistema cancional organiza-se, como
disse, de acordo com um padrão que denomino estrutura seqüencial. Este
pode ser visto tanto como um relato — uma "história" — quanto
como um programa — "estrutura" — de composição de seqüências
(de cânticos [canções e vinhetas] e de seqüências de cânticos), administrando
dois processos, repetição e diferenciação, tendo os cânticos como
unidades de processamento. Daí resultam três tipos de sucessões: progressões,
regressões e estagnações, que constituem, respectivamente, os
tempos "futuro", "passado" e "presente". A
estrutura seqüencial é do ponto de vista cognitivo uma máquina de ensinar (como
a suíte e a sonata-forma ocidentais), no sentido de Minsky (1983), sendo, por
outro lado, uma forma de agrupamento complexo (Snyder 2000:31-46) que opera com
a memória de longo prazo (:69-71). Diferente da suíte ocidental, porém, ela não
somente produz a progressão intercancional, mas também o retorno ou o regresso,
assim como a estagnação — quando o tempo interno do rito é, ele mesmo,
cancelado. Junto a isto, a memória que ela usa é tanto a de recognição ou
identificação, quanto a de esquecimento ou apagamento ou, para evocar um texto
magnífico: termo a termo, mármore e — por que, não, ou — murta.14
Para tornar mais clara minha exposição, reflito a seguir sobre o primeiro canto
do Yawari (noitinha) do tipo abertura. Eis a expressão de sua estrutura
seqüencial, na qual a inclusão (I) de cânticos comanda (®) sua exclusão (E).15

De acordo com esta expressão, a abertura (símbolo
AB) do sistema cancional do Yawari tem duas grandes alternativas, a
saber:
1ª. Sua seqüência de referência (SR5),16
quando nenhuma (~) operação (OP) é realizada com quaisquer de seus cânticos
(~OP5) [índice 5].
2ª. Suas outras seqüências (que seguem a bifurcação
sinalizada pelos índices 1 e 2).
Estas últimas são assim geradas: dependendo de a
inclusão (I) se fazer entre os cânticos 1 e 2 ou 1 e (-Rv) — Rv
sendo uma resseriação de cânticos — há duas possibilidades de elementos a
incluir (representadas pelos índices 2, 3 e 4):
·
(s-4')
·
(s-Ø)
Nestas possibilidades, s é uma subseqüência
de cânticos (1', 2' e 3') com alto grau de estabilidade, 4' é um cântico e Ø
sinaliza a ausência de cântico. Ambas as possibilidades apresentam combinação
com a primeira escolha (índice 1). Porém, somente (s-4') combina com a segunda
(índice 2).
Essas inclusões comandam (®) as exclusões (E), que
são as seguintes:
·
E (3)3
para a combinação de índice 1, subíndice 3, em que o 3 dentro do parênteses é
outro cântico.
·
E (3,
6-7)4 para a de mesmo índice (1) subíndice 4, em que 6-7 é a
subseqüência dos cânticos 6 e 7.
·
E (2, 3,
10)2 para a única combinatória possível de índice 2, em que 10 é
outro cântico.
A expressão em análise, cuja escrita está feita em
função das inclusões, pode ser comutada para uma outra expressão — tão válida
como a primeira — elaborada em função das exclusões.
A terceira marca que comentarei da música nas
terras baixas da América do Sul — que tenho chamado de estrutura
núcleo-periferia — caracteriza os tipos de relação entre os indivíduos e os
grupos de executantes formadores dos conjuntos musical-coreográficos (solo,
coro etc.). De começo, vale notar que esta característica não é puramente
musical, sendo também fortemente coreológica, ou seja, ligada à dança.17
De acordo com meus estudos sobre a música e a dança xinguanas (Menezes Bastos
1990, 1994, 1996, 1999b), a relação entre os indivíduos e os grupos de
executantes constituintes dos conjuntos musical-coreográficos nas terras baixas
é complexa, não se reduzindo, por exemplo, aos dois termos sucessivos e
alternantes da forma antifonal (solo e coro), tão comum em tantas partes do
planeta, por exemplo, na África subsaariana e no Ocidente (Lomax 1968).
A estrutura núcleo-periferia constitui-se da
relação — em sucessão e/ou simultaneidade — entre o que denomino núcleo
e o que chamo de periferia. O primeiro é composto por um ou uma solista
(ou mestre/a de música) e seus ou suas ajudantes; o segundo pelos demais
executantes (masculinos ou femininos). No núcleo — integrado por adultos
maduros — o mestre ou a mestra entra via de regra sozinho/a com o caput
de cada canção ou vinheta, ao final do qual é seguido/a pelos ajudantes, que
o/a mestre/a repete tipicamente em heterofonia.18
Enquanto isto, o mestre ou a mestra continua com seu canto. Este núcleo canta,
na grande maioria das vezes, canções, aqui e ali intermediadas por vinhetas,
que são configurações músico-lingüísticas geralmente onomatopaicas com alto
grau de estabilidade.
A periferia, por outro lado — integrada por adultos
jovens, adolescentes e crianças — emite onomatopéias com maior ou menor
estabilidade músico-lingüística e/ou as improvisa, constituindo-se em um amplo
tecido polifônico. O núcleo e a periferia, no caso xinguano por mim abordado,
são irredutíveis entre si, embora integrantes, sem dúvida, de um todo. Sua
relação, que evoca a da gemelaridade ameríndia, uma dualidade assimétrica (Lévi-Strauss
1993; Menezes Bastos 1996), é dada pelo fato de que ambos dramatizam, à sua
maneira — através, respectivamente, da canção e da onomatopéia
músico-lingüística — os mitos que estão na base dos ritos.
A estrutura núcleo-periferia pode assumir formas
variadas, pela multiplicação e/ou pelo cancelamento de seus termos. Desta
maneira, as formas em solo individual, as que são configuradas por muitos solos
individuais (caso da akia suyá [veja Seeger 1987]), assim como aquelas
em coro (como a ngere, também suyá) e outras podem ser vistas como suas
variações. Nas variações citadas, a periferia deixa de existir: na primeira, o
núcleo reduzindo-se ao solo; na segunda, este — também sem coro —
multiplicando-se; na terceira, fazendo-se presente somente o coro, sem o solo.
Do ponto de vista coreográfico, a estrutura em
foco, com suas variações, encontra nas formações em linha, fila (procissão),
cunha e bloco algumas de suas disposições mais comuns. Conforme antes
salientado, a terceira característica da música na região em estudo tem uma
forte realidade coreológica, sinal de que a dança, tanto quanto a música e os
demais nodos da cadeia intersemiótica do ritual, é um domínio de interesse
também estratégico para a compreensão da região. Noto que no caso xinguano (Menezes
Bastos 1990, 2001; Véras 2000), a dança manifesta-se desde o discurso nativo,
como último redutor da referida cadeia intersemiótica, espécie de limite desta,
para além do qual nada mais pode existir.
A terceira característica da música na região das
terras baixas da América do Sul, sistematicamente descrita em meus trabalhos
sobre a música e a dança xinguanas, parece ter também largo espectro,
espraiando-se do noroeste e do nordeste amazônicos (Piedade 1997; Beaudet 1997)
até o sul das terras baixas (Montardo 2002); do nordeste brasileiro (Cunha
1999; Herbetta 2006) até o sudeste e o sudoeste da Amazônia (Smith 1977; Silva
1997; Werlang 2001), passando por muitas sub-regiões do interior amazônico
(conforme os casos estudados por Coelho 2003; Mello 2005; Seeger 1987; Véras
2000, além de outros).
A quarta marca relevante da música nas terras
baixas da América do Sul tipifica o processo predominante na região de
composição de peças musicais: a variação. Nesse processo, o material
temático — tipicamente os motivos19
— exposto via de regra no caput das peças, é elaborado através de vários
procedimentos, entre os quais os de repetição, aumentação, diminuição,
transposição, retrogradação e outros, as transformações daí resultantes
guardando as características essenciais daquele material.20
Essa característica é muito disseminada na região, espalhando-se desde o norte
amazônico (Piedade 1997; Beaudet 1997) até o sul do continente (Montardo 2002);
do nordeste brasileiro (Cunha 1999; Herbetta 2006) ao sul da Amazônia (Silva 1997;
Werlang 2001), alcançando muitas subáreas interiores da região. Para maior
aprofundamento da questão, conferir, entre muitos outros, os estudos de Avery
(1977); Halmos (1979); Aytai (1985, 1978a-d, 1979a-c); Travassos (1984); Seeger
(1987); Menezes Bastos (1990); Véras (2000); Werlang (2001); Coelho (2003);
Piedade (2004); Mello (2005).
Os estudos detalhados de Menezes Bastos (1990,
2004a, 2004b [Kamayurá]), Piedade (2004) e Mello (2005) [Wauja] lançam luz
sobre como o processo de variação está na base da composição musical em nível
intracancional entre os xinguanos. No caso da música vocal kamayurá, o que
chamei de diadismo diatônico é um dos procedimentos mais comuns de
geração de motivos, a díade diatônica sendo nele constituída tipicamente pelas
notas que perfazem um salto de terça. Este é o caminho por excelência, entre os
Kamayurá, de construção do centro tonal de uma peça, ascendente ou descendente,
preferencialmente menor (maior costuma ser bem mais raro). Assim gerado o
motivo inicial da peça, as variações que dele são feitas em seguida, formando
sentenças e períodos, usualmente administram o processo que denominei de serialismo
cromático, no qual o motivo (ou a série) original é variado por preenchimento
cromático paulatino, o que pode resultar na composição de motivos derivados
completamente cromáticos.
Entre os Wauja, Piedade (2004) mostra com
brilhantismo e rigor, ao estudar a música instrumental, como a variação
motívica é o cerne do processo de composição da música das chamadas
"flautas sagradas". Os motivos — entendidos não necessariamente como
segmentos mínimos — são ali de dois tipos: motivos-de-tema e motivos-de-toque,
compreendidos, respectivamente, como as assinaturas das peças individuais e das
suítes (seqüências) das quais elas fazem parte (:150). Entre os princípios
variacionais, o autor anota os de aumentação, diminuição, transposição,
inversão e muitos outros (:201). Ainda entre os Wauja, Mello (2005) evidencia
como o processo de variação descrito por Piedade para a música instrumental
masculina tem também vigência na música vocal feminina. Por outro lado,
consolidando análises que começaram em seu texto de 1999, Mello (2005:9-11) vai
demonstrar — com base em elegante exame musicológico — como parte dos
repertórios masculino e feminino wauja, tipicamente os das ditas "flautas
sagradas" e os do ritual feminino do Amurikumã, rigorosamente
falando, são variantes entre si, tudo se passando entre esses Aruaque como se
as mulheres cantassem transposições vocais das músicas das flautas em foco, os
homens fazendo o inverso, executando à flauta as músicas femininas vocais.21
Em outras palavras, o processo de variação
atravessa aqui os gêneros musicais (e "sexuais"). Além de a variação
distinguir o processo de composição intracancional na região, ele também parece
marcá-lo no plano intercancional, aquele das seqüências, conforme o
anteriormente estudado. Neste sentido, cada uma das seqüências integrantes de
um mesmo universo de seqüências é, via de regra, variante da seqüência de
referência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como disse no início deste texto, a situação atual
dos estudos sobre a música nas sociedades indígenas das terras baixas da
América do Sul — tema típico e não especial da etnologia respectiva — é
extremamente promissora. Embora a cobertura etnográfica disponível sobre o
assunto seja ainda pequena, mas de forma alguma irrelevante,22
como apontei, ela permite o levantamento de um perfil geral da música na
região, básico para a projeção de pesquisas futuras. O presente balanço
levantou quatro marcas fundamentais quanto ao desenho desse perfil. De começo,
o papel da música na cadeia intersemiótica do ritual apontando para o sentido
geral de tradução. Trata-se de um papel consensualmente visto como de
grande interesse, que deve ser abordado, porém, como tarefa a encarar e não
como motivo jactante e paralisante de intelectual paroquiano. Em seguida,
propus que a seqüencialidade constitui, na região, um dos rationales da
organização dos rituais no plano intercancional, ou seja, no plano composto
pela articulação entre as peças de música (vocal, instrumental,
voco-instrumental) dos respectivos sistemas cancionais.
A obviedade da compreensão da música como
"arte do tempo" — leia-se da memória como recognição — aqui deve ser
superada pela inquirição sobre a articulação entre o referido tipo de memória e
aquele do esquecimento. A estrutura núcleo-periferia, com suas variações — ou
seja, transformações — aparece em terceiro lugar no balanço aqui feito, ancorando
a compreensão das complexas relações que envolvem os elementos constituintes
dos conjuntos musicais na região. Tudo aqui não se resume à alternação entre
solo e coro, mas a relação da irredutibilidade entre as partes também se
manifesta como absolutamente fundamental. A estrutura comentada sinaliza que a
dança — tanto quanto a música e os demais nodos da cadeia intersemiótica do
rito — é um domínio de interesse estratégico para a compreensão da região. Esta
é uma dança, entretanto, na qual convivem as tendências catabática —
orientada para a terra e com gosto pelo peso — e acrobática — voltada
para o ar, em busca da "liberdade", dir-se-ia.
Como quarta e última marca, o presente estudo
apontou a variação como processo básico de composição musical na região, nos
planos intracancional, referente às peças musicais e intercancional, atinente
às suas seqüências. Observe-se que a idéia de variação aqui adotada
simplesmente não descarta a de desenvolvimento (vide nota 23). Sugiro que
pesquisas intensivas e extensivas sobre estes quatro pontos estão na ordem do
dia no sentido do avanço dos conhecimentos setorial — sobre a música — e geral
— sobre a etnologia das terras baixas da América do Sul.
Evidentemente que outros tópicos deverão ser
investigados na direção do avanço em comentário como, por exemplo, até que
ponto serão pertinentes para o campo musical os divisores
lingüístico-culturais, de tal forma que se possa falar de maneira consistente
em paisagens musicais tupi, jê, aruaque, caribe e outras (Beaudet 1993:527)?
Qual o impacto do contato com o "mundo dos brancos" sobre os sistemas
musicais ameríndios, levando-se em conta aquilo que os casos dos índios ditos
"misturados" Pankararu (Cunha 1999) e Kalankó (Herbetta 2006) parecem
evidenciar? Por fim, o achado de Silva (1999) entre os Aruaque kulina —
relativo à localização no cantar dos grilos da pulsação da música de um ritual
dos humanos. Este fato tem um interesse meramente local, ou sugere algo mais
disseminado, eventualmente uma outra marca da música das sociedades indígenas
das terras baixas da América do Sul, ligada à incorporação, na música dos
humanos, de elementos sonoro-musicais provindos da natureza?
NOTAS
*
Uma versão anterior deste texto saiu em duas partes (veja Menezes Bastos 2006a
e 2006b). Obrigado a Carlos Sandroni pelas dicas bibliográficas, e aos
pareceristas anônimos comissionados por Mana pelas sugestões visando à
presente versão.
1
Sobre o primeiro livro — que Cooley (1997:6) considera ser a primeira descrição
etnomusicológica baseada em trabalho de campo realizada no mundo — veja Azevedo
(1941), Camêu (1977) e Veiga (1981). Para uma leitura etnomusicológica do Tesoro
de Montoya, veja Montardo e Martins (1996) e Montardo (2002:220). Sobre as duas
obras, veja Menezes Bastos e Piedade (1999).
2
Entre as monografias etnomusicológias, veja Menezes Bastos (1999a [1978],
1990), Halmos (1979), Aytai (1985), Seeger (1987), Ermel (1988), Hill (1993),
Estival (1994), Olsen (1996), Beaudet (1997 [1977]), Werlang (2001), Montardo
(2002), Piedade (1997, 2004), Mello (1999, 2005) e García (2005). Entre as
outras, Hugh-Jones (1979), Basso (1985), Viveiros de Castro (1986), Graham
(1995), Pinto (1997), Velthem (2003). Veja Aretz (1991), Beaudet (1993),
Menezes Bastos (1994, 1999b e 2005a), Blasco (2000) e Coelho (2007) para alguns
levantamentos.
3
Pereira (1995), Magalhães (1994), Nascimento (1998) e Barros (2003) são algumas
das exceções a essa tendência, a primeira proveniente da área de comunicação e
semiótica, as três últimas da área de música. Cf. Higuita (2004) para um trabalho
originário da área da lingüística.
4
Entre os programas brasileiros de pós-graduação em antropologia social, o da
Universidade Federal de Santa Catarina ocupa posição de destaque a este
respeito. Veja o site do MUSA (http://musa.ufsc.br), sua entrada no Diretório dos
Grupos de Pesquisa do CNPq (http://www.cnpq.br) e os resumos de dissertações de
mestrado e teses de doutorado no Banco de Teses da CAPES (http://www.capes.gov.br). Nos últimos quinze, vinte
anos, as etnomusicologias americana, inglesa e francesa envolvendo a América do
Sul indígena têm privilegiado as terras altas. Obrigado a Anthony Seeger,
Jean-Pierre Chaumeil, Jean-Michel Beaudet e Henry Stobart por me ajudarem a
consolidar este ponto. Outros países da América Latina exibem uma literatura
sobre o tema em estudo cada vez mais significativa. Entre eles, a Argentina
(veja García 2002, 2005; Novati 1984), a Colômbia (Blasco 2000; Higuita 2004;
Melo 2005) e a Bolívia (Sánchez 1998, 2001).
5
Viveiros de Castro (2002:121) chamou esta perspectiva de "comparativismo
imanente".
6
Veja o site do Instituto Socioambiental (http://www.socioambiental.org/), na parte referente aos povos
indígenas, para informações relativas ao Brasil, sobre CDs e vídeos. Também o
da organização "Vídeo nas Aldeias" (http://www. videonasaldeias.org.br/), para o programa de mesmo nome
envolvendo autoria indígena. Sobre a questão da apropriação indígena da
produção fonográfica e de vídeos, cf. Gallois e Carelli (1995), Turner (1993),
Menezes Bastos (2002) e Coelho (2004).
7
Note-se que muitos dos integrantes da geração em foco estão ainda em fase de
formação doutoral (veja, por exemplo, Barros [em andamento] e Lourenço 2006).
8
Deste missionário do Summer Institute of Linguistics, somente tenho
conhecimento de um texto publicado sobre as terras baixas da América do Sul: o
de 1977.
9
Recordo que meu livro de 1978 (veja 1999a) transcreve ipsis litteris a
dissertação de mestrado que defendi na Universidade de Brasília em 1976.
10
Para chegar a esta fina síntese, Basso realiza um estudo de grande interesse
sobre a arte verbal kalapálo, abordando de maneira sensível sua musicalidade.
Para outras obras referenciais que têm nessa musicalidade um de seus temas
fortes, veja Sherzer e Urban (1986) e Franchetto (1993, 2000).
11
O Yawari é um ritual funerário, desencadeado pelo falecimento daquele a
quem se comemora e "co-esquece" (pois os Kamayurá nele investem tanto
a memória de recordação quanto a de esquecimento). O rito que estudei em 1981
teve seus preliminares em uma morte acontecida em 1977 (veja Menezes Bastos
1990, 2004a, 2004b). Mello (2005) estuda, entre os xinguanos Aruaque wauja,
ritos cujos desencadeamentos datam de dez anos passados em relação às suas
execuções presentes.
12
Com base em Lévi-Strauss (1980 [1952]), entendo a noção de estrutura
como construção abstrata que evidencia as regras de constituição de um dado
universo de fenômenos. Para seu conceito de transformação, conferir o
mesmo texto.
13
Seqüência de referência é aquela que ocorre de primeiro nas reiterações
de uma determinada seqüência de seqüências de cânticos, no caso do Yawari.
A noção claramente inspira-se na de mito de referência de Lévi-Strauss
(1991 [1964]).
14
Veja Estival (2006) para um estudo sobre a questão da memória musical entre os
Ayoré do Chaco.
15
Como na álgebra elementar, na leitura desta expressão as chaves ({}) são
hierarquicamente superiores aos colchetes ([]), estes o sendo aos parênteses
(()). Na expressão, os cânticos são representados pelos algarismos de 1 a 10 e
de 1' a 4'. Estes quatro últimos cânticos não se manifestam na SR, sendo
incluídos em reiterações suas.
16
A SR é formada por 10 cânticos — entre canções e vinhetas — representados pelos
algarismos de 1 a 10. A AB como um todo é composta por 14 cânticos, aqueles que
compõem a subseqüência de 1' a 4' devendo ser somados aos 10 da SR.
17
Uma dança, porém, como mostrou Véras (2000) estudando os xinguanos Caribe
matipú, na qual convivem as tendências catabática — em direção à terra,
ao chão — e acrobática — para o ar, para cima.
18
Brevemente falando, heterofonia é a variação simultânea de uma melodia.
19
Uso o conceito de motivo de Lidov (1975), vendo-o como o segmento mínimo
do estrato sintático.
20
Para o processo de variação, veja Randel (1978:533-535). Segundo Rosen
(1994:86-87), ele tem o desenvolvimento como oposto polar; neste, as
transformações resultantes diferenciam-se da/s idéia/s original/is pela
interveniência de nova/s idéia/s. Essa diferenciação entre a variação e o
desenvolvimento é problemática, particularmente nos termos do conceito
schoenbergiano de variação progressiva, compreendida como processo
gradual de desenvolvimento motívico (Dudeque 2005:228).
21
Aí certamente está o nexo da prescrição auditiva às mulheres em relação à
música das "flautas sagradas", vis-à-vis à sua proibição
visual.
22
Sobre a diferenciação feita por Popper entre a "abundância do conhecido e
o ilimitável do desconhecido", cf. o célebre comentário de Adorno (1986).
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